RITA ANDRADE: UMA MULHER DE FIBRA

Natural do Acre, Rita de Cássia Albuquerque Andrade, a Ritinha, tem 25 anos, é formada em Letras-Português pela Universidade Federal do Acre (UFAC) e é atleta de bocha paralímpica, na categoria BC1. 

Desde que nasceu, Rita convive com a Paralisia Infantil e com as sequelas de sua condição: ela teve sua dicção e seus membros inferiores e superiores severamente afetados, o que a obrigou a utilizar cadeira de rodas, mas isto nunca a impediu de sonhar e buscar seus objetivos.

“Na verdade, a deficiência é a minha grande motivação, porque é através dela, e de tudo o que já conquistei por causa dela, que eu consigo mostrar para o mundo que podemos tudo o que sonhamos”, afirma.

Além da deficiência, ela também enfrentou outros obstáculos em sua vida. Como sua mãe biológica não teve condições financeiras de criá-la. Rita foi criada pelos avós paternos, desde que tinha apenas 1 ano e 9 meses.

Segundo Rita, ela é muito grata por ter acontecido desta forma, já que seus avós foram os pais que a ensinaram a ser uma “luz no meio dos homens”. A relação com seus pais biológicos, contudo, sempre foi tranquila..      

“Tenho uma relação boa com eles. Minha mãe não mora na mesma cidade do que eu, mas meu pai sim. E, por isso, possuo mais contato diário com meu pai do que com a minha mãe”, conta.

Ela considera que todos que conheceu durante sua vida foram fundamentais em sua evolução, mas que quem realmente foi a grande agente transformadora de sua história foi sua mãe avó, principalmente por possibilitar seu acesso à educação, mesmo com dificuldades. 

“Era ela que, lá atrás, me levava nos braços, debaixo de um sol quente para a minha primeira escola, pois eu não tinha cadeira de rodas e nem o estado disponibilizava o transporte para me levar.”, relembra.

Em sua primeira escola, Rita conseguiu evoluir bastante, já que lá teve acesso à estimulação precoce e começou a entender o impacto que a educação poderia causar em sua vida. Tal fato a levou a aprender com bastante facilidade e a mostrar a todos a sua capacidade intelectual, que sempre foi preservada.

Sempre muito estudiosa e com boas notas na escola, Rita chegou à faculdade um ano antes do previsto, ao passar no Ensino Nacional do Ensino Médio (Enem) para a carreira que tanto queria ainda no segundo ano.
Com o resultado tão sonhado alcançado, ela decidiu largar o terceiro ano, através de uma prova de conclusão. Enfim, ela se tornou universitária de Letras Português na Universidade Federal do Acre (UFAC). Durante o tempo na instituição, Rita considera a colação de grau como melhor momento não só de sua licenciatura, como de sua vida.  

“A minha colação de grau foi a coisa mais linda e emocionante da vida e nela, eu fui agraciada com a Láurea Acadêmica – certificado concedido aos alunos que têm os melhores índices e uma exemplar conduta acadêmica”, comemora.  

Já formada, Rita aproveita todo seu potencial como escritora para ser colunista em um jornal local e escrever sua autobiografia. Além disso, ela também tem outros projetos como a participação em palestras, nas quais defende a inclusão social e a acessibilidade, sempre procurando quebrar tabus, e no Conselho de Esportes de Cruzeiro do Sul, cidade em que mora. Ela também dedica-se ao balé e, sobretudo, à bocha paralímpica.     

TRAJETÓRIA NA BOCHA

Rita começou a praticar a bocha em 2012, quando passou a frequentar a APAE. Logo em seu primeiro ano, competiu em dois torneios, porém sem êxito. Em 2013, passou pela mesma situação nas Paralimpíadas Escolares. Sem apoio e resultados, Rita viu-se obrigada a parar de jogar.

No entanto, sempre teve vontade de retornar ao esporte. Foi o que aconteceu em 2017, quando a prefeitura de Cruzeiro do Sul em conjunto com uma clínica particular ofereceu sessões de fisioterapia gratuitas à ela e, com o apoio de seu clube APA, de professores, de auxiliares, da família e de amigos, pôde retornar à bocha e crescer como atleta.

Já na categoria adulta, Rita começou a trilhar um novo caminho no esporte: participou de campeonatos Estaduais, Regionais e Brasileiros, sempre com bons resultados. Suas conquistas são: bicampeonato estadual (2017 e 2018), tricampeonato regional (2017, 2018 e 2020), prata no estadual  (2019) e Bronze no Regional (2019).   

Com sua força de vontade como atleta, ela foi capaz de viver situações que nunca imaginava viver e, é claro, de cativar toda sua cidade, porém sem esquecer do apoio que recebe diariamente de seus parceiros.

“Recebo muito carinho, oportunidades e uma avalanche de amor vinda das pessoas e de Deus. E retribuo isso espalhando pelo mundo tudo que meus avós paternos me ensinaram. Hoje, sou uma referência na minha cidade, estado e região”, orgulha-se Rita, que é a unica mulher na categoria BC1 da Região Norte.

Perguntada sobre seus projetos futuros, Rita contou que, em breve, iniciará sua pós-graduação na área de inclusão e quanto aos seus sonhos, ela foi bem ampla..  

“Gostaria de fazer parte da seleção brasileira de bocha, ir morar no Canadá por causa da referência em acessibilidade, ir ao Caldeirão do Huck, viajar para palestrar, comprar uma cadeira motorizada, encontrar um amor e, com ele, construir a minha própria família”, conclui.  

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